Por Leonardo Calvancanti
A
corporação chega ao aniversário da Independência em alta. Quer
por colaborarem em missões humanitárias e de segurança, quer pelo
Ministério da Defesa deter um dos maiores orçamentos do governo
federal.
Desde
a volta de um presidente civil ao poder, em 1985, os militares não
chegavam a um 7 de Setembro tão fortes e prestigiados como agora.
Isso a partir de qualquer avaliação. Do ponto de vista
orçamentário, por exemplo, o Ministério da Defesa — comandado
por um general pela primeira vez desde a criação, em 1999 — ocupa
um dos primeiros lugares nos pagamentos realizados no primeiro
semestre deste ano. Os projetos estratégicos, por mais que
apresentem algum atraso, são mantidos como prioridade na Esplanada.
Se a análise for feita a partir de missões governamentais, a
intervenção federal no Rio de Janeiro e as operações humanitárias
e de segurança na fronteira em Roraima, mesmo alvos de críticas
sobre a eficiência, mostram a dependência do governo no trabalho do
Exército. Os índices da aprovação das Forças Armadas, por sua
vez, se mantêm em alta.
A
partir de cruzamento de dados orçamentários e entrevistas com
acadêmicos e políticos, o Correio montou um quadro sobre o poder
dos militares na democracia. A pasta da Defesa está em segundo lugar
nos investimentos pagos entre janeiro e junho deste ano, com R$ 3,9
bilhões, ultrapassando, inclusive, os números do Ministério da
Saúde, com R$ 3,8 bilhões, segundo dados produzidos pela Associação
Contas Abertas a pedido da reportagem. “A explicação está no
programa de construção de corvetas classe Tamandaré”, disse o
secretário-geral Gil Castello Branco. Apenas para os navios foram
desembolsados R$ 1,6 bilhão. No ranking geral de investimentos, a
Defesa perdeu apenas para o Ministério dos Transportes.
“Os
dados mostram que, apesar da crise enfrentada pelo país, os
militares estão em alta, nenhum presidente quer enfrentar”, disse
Castello Branco. O próprio projeto inicial da reforma da Previdência
preparado pelo governo Michel Temer — e hoje esquecido pelo
Congresso — preservou os integrantes das Forças Armadas. Enquanto
a última parcela do reajuste dos civis foi adiada por medida
provisória para 2020, o pessoal da caserna conseguiu manter os
valores. “A questão não é ter receio dos militares, mas entender
a importância de um trabalho estratégico”, afirma um integrante
do alto-comando das Forças Armadas. Além das missões no Rio e em
Rondônia, os militares foram solicitados em Natal, durante a greve
da Polícia Militar, em janeiro, e na greve dos caminhoneiros, em
maio.
Estratégia
Os
projetos estratégicos das três Forças foram mantidos, mesmo com
atraso. Na Marinha, o submarino nuclear; na Aeronáutica, os caças
Gripen e o KC 390; e no Exército, o aparelhamento da defesa
cibernética e do Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras
(Sisfron). A um mês das eleições, 54 integrantes reformados do
Exército disputam uma vaga no Congresso, incluindo o ex-capitão
Jair Bolsonaro, esfaqueado ontem em Juiz de Fora (MG).
“A
disputa política de candidatos militares é do jogo democrático.
Mas é importante lembrar que todos os avanços que eles tiveram em
relação a orçamento e projetos ocorreu nos últimos governos. E
eles sempre atuaram de forma independente, fosse qual fosse o
governo”, diz Arthur Trindade, sociólogo e professor da
Universidade de Brasília (UnB). Trindade enumera também a
participação no Haiti e na segurança das Olimpíadas. “Eles
estão no melhor momento. A contradição é que, ao buscar um lado
na política, podem correr riscos em relação à independência”,
afirma.
Procurada,
a Marinha afirmou que o “projeto das Corvetas Classe Tamandaré”
não influenciou no orçamento, “pois ainda não se tem a decisão
final e um contrato formalizado”.
Leia também: INCÊNDIO DE GRANDES PROPORÇÕES ATINGE ÁREA PRÓXIMA AO PARQUE NACIONAL
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