Caso de adolescente morta por
explosão assustou usuários de smartphones pelo mundo. Em 2018,
foram registrados 41 acidentes, dois deles em Minas. Produtos piratas
e superaquecimento podem causar problemas graves
Sediada em São Paulo, a
Abracopel trabalha para identificar as causas do aumento no número
de ocorrências envolvendo celulares no Brasil. “Em 2016 nós
registramos um acidente, em 2017 dois, e em 2018 começamos o ano com
diversos acidentes. A coisa subiu assustadoramente e foi quando
começamos a avaliar, verificar o que está acontecendo. Ainda é
pequeno se considerar o número de celulares no país, mas vem
aumentando vertiginosamente”, explica o engenheiro eletricista e
diretor-executivo da Abracopel, Edson Martinho.
Com base nas ocorrências
levantada pela associação, Martinho aponta um conjunto de fatores.
“O primeiro deles é a utilização de carregadores não originais.
Os mais simples, que são os mais baratos, retiram um dispositivo de
segurança. Se houver aquecimento, excesso de corrente ou pico, pode
levar o celular a aquecer demais, explodir ou transferir a tensão
para o aparelho”.
Nas ruas de Belo Horizonte e
outros municípios, não é difícil encontrar ambulantes ou pequenas
lojas comercializando acessórios piratas para smartphones,
principalmente os cabos e carregadores. Para explicar a diferença
entre os equipamentos originais e os alternativos, o diretor da
Abracopel faz uma analogia com as caixas d'água. “Ela tem uma boia
e, quando chega no topo, fecha a entrada de água e não transborda.
O carregador do celular é um limitador de corrente. Quando vai
chegando ao final do carregamento, ele vai diminuindo a carga dentro
da bateria”. É possível observar que quando um celular está
conectado à tomada há um aumento de temperatura, mas quando a carga
é completa o equipamento esfria. Segundo Martinho, os carregadores
pirata sem a limitação de corrente continuam mandando eletricidade
para o aparelho, daí o perigo da sobrecarga.
“Dentro do nosso universo de
acidentes, computamos vários envolvendo colocar e retirar da tomada
com os pés descalços, e tem as baterias ou carregadores não
originais com aquecimento excessivo. A bateria é uma bomba relógio.
Aquilo vai esquentando, não tem por onde dissipar o calor e vira uma
bomba”, relata o engenheiro eletricista, que também ressalta que é
preciso ter cuidado com a rede dos imóveis. “A parte elétrica tem
que ser sempre revisada, a cada cinco anos pelo menos, não só por
causa do celular, mas todos os equipamentos”, enfatiza.
Na
ocorrência no Cazaquistão, Alua Asetkyzy Abzalbek, que morava em
Bastobe, dormia na hora do incidente. De acordo com informações do
Daily Mail, a adolescente foi para a cama escutando música. A
perícia detectou que uma sobrecarga foi a causa do acidente: o
telefone estava conectado à tomada e esquentou até explodir perto
da cabeça da adolescente.
Atenção à Bateria
O engenheiro de Segurança do
Trabalho da Cemig, Demétrio Aguiar, destaca que a bateria do
celular, principalmente em aparelhos antigos, pode colocar o usuário
em risco. “O aparelho tem uma vida útil. Existe a obsolescência
programada, porque daqui a dois anos vai surgir um modelo melhor. A
bateria, que duraria um dia ou um dia e meio começa a durar três ou
quatro horas. Só que algumas baterias não trocam, ficam dentro do
aparelho, e tem também o shopping popular que importa bateria
parecida ou paralela que não tem o mesmo controle do fabricante, tem
expectativa menor, não vai funcionar direito”, analisa.
Ele cita uma situação comum na
rotina de usuários de todas as idades atualmente. “A pessoa fica
na rede social muito tempo, liga o carregador, troca de mão porque
está muito quente. A bateria tem uma quantidade significativa de
energia porque o processamento dos aparelhos modernos é muito
intenso, é um minicomputador poderoso”, diz. “Os elementos ficam
prensados dentro da cápsula que é a bateria e tudo que é aquecido
se dilata. Pode ocorrer deformação dessa bateria a ponto de não
conter os elementos químicos dentro e explodir. Ela pode provocar um
curto entre os polos que produzirá centelha suficiente para pegar
fogo. A explosão em si já tem o efeito mecânico de projeção do
produto químico atingindo o rosto e as mãos da pessoa. Pode ter
queimadura pelo fogo e pelo elemento químico. Pode ser uma
queimadura grave”, explica Aguiar.
Cuidado com as tomadas
Além de procurar usar
assessórios originais e evitar “esquecer” o aparelho conectado
por longas horas ou durante o sono, Demétrio Aguiar alerta que é
preciso se preocupar com onde o smartphone será carregado,
principalmente em locais públicos, como shoppings e aeroportos.
Tomadas com defeitos e instalações elétricas de má qualidade
podem danificar o aparelho, causar choques ou incêndios. “A
instalação elétrica tem que ser revisada, com materiais de boa
qualidade. Já precisei de tomada de aeroporto, você conecta ali e
está tão bambo que parece que colocaram algo nos pinos, fica mal
conectado. Há casos em que a pessoa fica segurando o carregador com
uma mão e o aparelho na outra (na tomada). Quando a tomada
está com mal contato ele dá 'curto' várias vezes. Isso provoca mal
funcionamento do carregador”, avisa.
Assim como Edson Martinho, da
Abracopel, Aguiar reforça que a rede elétrica e as tomadas precisam
de manutenção periódica. Ele ainda recomenda a instalação de um
Diferencial Residual (DR) no quadro de energia das residências. Ele
desliga o circuito ao detectar fugas de corrente elétrica, evitando
que as pessoas levem choques.
Veja o que evitar na hora de
carregar o celular
- Usar o aparelho ligado
à tomada: principalmente
em caso de tempestades com descarga elétrica, o usuário pode levar
um choque, assim como quando sai do banheiro ou da piscina descalço
e/ou com o corpo molhado. O mesmo vale para o carregador portátil
(power bank). O uso do celular conectado à tomada pode gerar um
superaquecimento e até explodir a bateria. Se precisar usar,
desconecte o aparelho. Também evite as extensões
- Carregar o celular em
lugares com água ou objetos inflamáveis: não
se pode deixar o celular carregando sobre superfícies em contato com
a água, como banheiros e cozinhas, e propícios a incêndios, como
as camas, banco do carro, perto de cortinas, objetos de madeira ou
outros que propaguem fogo. Escolha superfícies lisas e em locais
arejados
- Usar acessórios
piratas: os
produtos não costumam ter itens fundamentais para a segurança de
quem usa e não têm controle de qualidade. Falhas internas podem
gerar curto circuito e o barato acaba saindo caro
- Carregar o celular com
a capinha: a
capa dos aparelhos acaba fazendo o papel de um cobertor, impedindo a
troca de temperatura do aparelho com o ambiente, resultando em
superaquecimento, que pode causar incêndio ou explosão.
- Usar celular muito
aquecido: alguns
aparelhos costumam esquentar durante o uso, mesmo sem estar
conectados a um carregador. Nesse caso, a pessoa pode usar um app que
suspende ações em segundo plano. Se não resolver, desligue o
aparelho, tire a capinha ou até retire a bateria se possível.
Quando a temperatura normalizar, volte a usar.
- Tomadas com defeito: o
contato pode danificar o aparelho ou causar choque elétrico
Fonte: Cemig e Abracopel
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