Por
Vitor Hugo Brandalise
A
possível libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT), após a decisão do Supremo Tribunal Federal de barrar a prisão
de condenados em segunda instância, tende a reforçar a polarização
pelo país e a reeditar o ambiente belicoso que marcou as eleições
de 2018, dizem cientistas políticos ouvidos pela BBC News Brasil.
Na
avaliação dos pesquisadores, a decisão do Supremo e uma eventual
saída do ex-presidente da prisão pode ainda beneficiar o governo de
Jair Bolsonaro (PSL), ao tirar o foco de problemas da atual gestão
Para
o professor Bruno Wilhelm Speck, do departamento de Ciência Política
da Universidade de São Paulo (USP), apesar de a mobilização em
torno da libertação ou não do ex-presidente ter arrefecido nos
últimos meses, manifestações estão "prontas" para
voltar a acontecer.
"Creio
que a mobilização dos dois lados, a mesma que foi forte nos últimos
dois anos, vai se intensificar. Não será exatamente em torno da
figura de Lula, mas as massas já estão mobilizadas, com um espectro
bem definido. Esse 'ritual' está pronto para recomeçar",
afirma Speck.
"De
um lado, as pessoas que protestaram nos primeiros meses do ano contra
cortes na educação, por exemplo. Essa ponta será galvanizada caso
haja a presença de Lula", diz. "Do outro lado está a
massa de 'indignados', os que protestam contra a corrupção,
vestindo verde e amarelo. Esses serão estimulados pela base de
Bolsonaro, que tratará uma libertação de Lula como exemplo de
'impunidade' e usará o sentimento de indignação para chamar
protestos."
Para
o cientista político Sergio Fausto, superintendente da Fundação
Fernando Henrique Cardoso, a presença de Lula novamente no cenário
eleitoral, a um ano das eleições municipais, tende a reforçar a
polarização de 2018. O mecanismo será novamente o da rejeição,
afirma. "Vai funcionar na base do 'Ele, não'. Para um lado ou
para o outro, 'ele, não' 'ele de jeito nenhum'. Os extremos saem
fortalecidos, um sabe imediatamente com quem antagonizar."
"Não
creio em grandes manifestações de rua, e nem que Lula consiga
colocar um grande contingente nas ruas. Mas as palavras dele têm
força e, no caso de haver protestos, será ouvido", diz. "Lula
é hoje a única grande liderança do campo da esquerda no país, e
sua amplitude não é confinada à esquerda. É um ex-presidente, um
líder popular, tem uma capacidade retórica grande. E reforça essa
ponta do espectro político. Quase por um reflexo imediato disso, a
outra liderança nacional consolidada, Bolsonaro, ganha força
também. Ambas as pontas tendem a se radicalizar novamente."
Quem
sai perdendo, afirma Fausto, são os movimentos de centro, que tendem
a submergir. "Nem há ainda um movimento de centro bem
constituído, e faltam três anos para a eleição presidencial,
quando esse movimento pode aparecer. Mas, nessa lógica de dois polos
que se reforçam e se ampliam, o espaço do centro se reduz.
Especialmente porque ainda não tem lideranças claras."
Reunificação
do bolsonarismo
A
eventual saída de Lula da prisão em Curitiba, avalia Fausto,
favorece também uma reunificação da base bolsonarista, que
enfrenta divisões ao longo dos últimos meses. "Embora não
apague os problemas do governo Bolsonaro, diante da hipótese de um
PT mais forte, o efeito 'eu sei o que eu não quero' se reforça
novamente."
O
professor da USP Bruno Speck afirma que as falhas na administração
de Bolsonaro ficarão em segundo plano. "Vai ajudar a apagar os
conflitos desse governo: as denúncias de desvio de verba do fundo
partidário nas campanhas do PSL, por exemplo, e a citação a
Bolsonaro nas investigações do assassinato de Marielle Franco. Se
vier mesmo a acontecer em breve, a soltura do Lula será um fato que
apagará por um bom tempo todos os outros assuntos."
Já
para o cientista político Fernando Limongi, pesquisador sênior do
Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e professor
titular da USP e da Fundação Getúlio Vargas, a eventual saída de
Lula da prisão não será suficiente para manter as atenções
afastadas dos atuais problemas do país.
"As
repercussões políticas reais serão pequenas. Vai ter muita
retórica e muita gente tomando posições. Mas a direita não vai
pôr gente na rua, porque está se dividindo em relação a
Bolsonaro", avalia Limongi. "O PT está muito fraco. O Lula
pode falar muito, mas não acho que vá convocar manifestações e
coisas do tipo. Vamos ver muita marola, mas a vida continua e o
essencial é o governo e suas iniciativas."
Eleições
municipais de 2020
Caso
de fato deixe a carceragem da Polícia Federal em Curitiba em breve,
dizem alguns dos analistas, o petista testará seu potencial de
atração de votos já desde a pré-campanha, nas eleições
municipais do ano que vem.
"É
sabido que ele tem grande capacidade de articulação. O PT ganhará
força depois de seu pior desempenho em eleições municipais, em
2016. E a presença de Lula produzirá muita indignação. Ou seja,
também segue a lógica de criar um ambiente fértil para polarizar o
cenário eleitoral", afirma Sergio Fausto, da Fundação FHC.
"Desde
a pré-campanha, ele ajudará o seu partido a elaborar as campanhas,
levantará nomes para as disputas, ajudará a criar alianças nas
principais cidades", disse Bruno Speck, do departamento de
Ciência Política da USP. "A eleição presidencial ainda está
longe, mas, caso ele saia mesmo da prisão em breve, certamente vai
impactar a eleição municipal. E os prefeitos, depois, se tornam
cabos eleitorais importantes nas eleições nacionais seguintes,
tanto para presidente e governadores como nas eleições
proporcionais."
Fonte:BBC
News Brasil
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