Por Mariana d’Ávila
Segundo especialistas, o
"número mágico" tende a ser maior, ainda que varie
conforme o estilo de vida do investidor e a rentabilidade de sua
carteira
Por muito tempo, alcançar o
sonhado primeiro milhão foi associado à ideia de independência
financeira, com a possibilidade de parar de trabalhar e viver de
renda. Mas será que ainda é viável viver apenas com os frutos dos
rendimentos gerados por aplicações financeiras com essa quantia? Na
avaliação de especialistas consultados pelo InfoMoney,
provavelmente não.
“As pessoas falam em R$ 1
milhão porque é um número redondo, vira uma coisa psicológica,
mas hoje esse valor não tem muito significado quando falamos em
independência financeira”, afirma o educador financeiro André
Massaro.
Ainda que destaque que qualquer
simulação depende do estilo de vida pretendido, o consultor
assinala ser esperado que um investidor com patrimônio financeiro de
R$ 1 milhão não tenha um custo de vida baixo no Brasil e, portanto,
não consiga depender exclusivamente dessa reserva por muito tempo.
Com esse montante, Massaro
calcula que uma pessoa que pretenda fazer retiradas mensais de R$ 10
mil a partir de uma carteira com rentabilidade real (descontada a
inflação) de 3% ao ano, levará apenas 115 meses (pouco menos de
dez anos) para esgotar um patrimônio inicial de R$ 1 milhão.
Daiane Reis, assessora de
investimentos e sócia no escritório Monte Bravo, assinala que o
contexto de juros nas mínimas históricas dificulta o rendimento de
aplicações mais conservadoras e que o famoso retorno de 1% ao mês,
antes encontrado facilmente com a taxa Selic no patamar de dois
dígitos, já não existe mais.
“Hoje, para conseguir uma boa
rentabilidade nos investimentos, o investidor tem que se expor mais à
renda variável, a aplicações que oscilam e podem sofrer
desvalorizações, impactando negativamente a renda”, diz.
Nos últimos 12 meses, quem
tivesse investido R$ 1 milhão na carteira conservadora “modelo”
da Monte Bravo, composta majoritariamente por ativos de renda fixa,
conta Daiane, teria tido um retorno de 130% do CDI, equivalente a um
ganho real de 7,74%.
No melhor dos cenários, isto é,
se fossem descontados 15% de Imposto de Renda e uma inflação de
aproximadamente 4% ao ano, o investidor teria uma renda mensal
líquida de cerca de R$ 2,2 mil, aponta a assessora.
Vale lembrar, que o Imposto de
Renda é regressivo, isto é, se o investidor resgatar as aplicações
em menos de dois anos, o custo será maior e, consequentemente, o
montante a ser recebido, menor.
O “número mágico”
atual
Uma pessoa de 60 anos que
pretenda se aposentar e retirar R$ 10 mil líquidos (descontada a
inflação) mensais durante 30 anos, teria que ter um patrimônio
financeiro de R$ 2,42 milhões (em valores atuais), considerando uma
taxa real de 3% ao ano, calcula Massaro.
Diana Lemos, planejadora
financeira com certificação CFP, reforça a necessidade de
diversificar o portfólio para alcançar o objetivo proposto. “Se
ficar só em CDI, o investidor não vai conseguir o retorno real
necessário para alcançar a independência financeira. Ele vai ter
que buscar uma diversificação, o que inclui ter outros tipos de
indexadores em renda fixa, como IPCA, que dá proteção do poder de
compra ao longo do tempo, além de ativos de renda variável”,
afirma.
Segundo ela, para ter ganhos
melhores, até o investidor conservador terá que aceitar maior risco
de crédito na renda fixa e, para isso, o recomendado seria ter uma
orientação profissional para selecionar os ativos mais adequados
para seu perfil.
Diana lembra, contudo, que uma
diversificação só deve ser feita após criada a reserva de
emergência, com um montante equivalente a seis a 12 meses o custo de
vida.
Como calcular o quanto
você precisa para se “aposentar”?
Para conquistar a independência
financeira, o primeiro passo, segundo Diana, é calcular o capital
inicial disponível, o rendimento a ser obtido com esse montante e o
prazo necessário para começar a fazer retiradas periódicas. Uma
taxa relativamente conservadora, considerando a Selic em patamares
mais baixos, é de 2% a 3% de juros reais ao ano, diz.
A planejadora financeira destaca
que é fundamental que a pessoa tenha uma carteira adequada ao seu
perfil de risco e que fique sempre de olho nos juros reais, isto é,
acima da inflação, para evitar perda do poder de compra.
Na avaliação de Daiane, da
Monte Bravo, um dos produtos mais vantajosos para quem quer viver de
renda são os fundos imobiliários, que pagam dividendos mensais em
torno de 0,6%, sem IR. “É uma alternativa, mas os FIIs entram na
caixa de renda variável, então o ganho não é garantido, o que
pode comprometer a renda mensal”, alerta.
R$ 1 milhão hoje não é
o que já foi
Por conta da inflação, o poder
de compra de R$ 1 milhão era, há 10 anos, muito maior do que hoje.
Desde 2009, a inflação acumulada no Brasil foi de 76,3%. Isso quer
dizer que R$ 1 milhão naquela época equivaleriam a R$ 1,76 milhão
hoje, isto é, quase o dobro.
Se considerarmos a inflação
desde o início do Plano Real, em 1994, é ainda mais fácil notar
como R$ 1 milhão perdeu valor ao longo do tempo. Nos últimos 25
anos, desde que o país instituiu a moeda estável, a inflação
acumulada foi de 520,6%. Isso significa que R$ 1 milhão naquele ano
tinha o mesmo poder de compra de R$ 6,2 milhões hoje. Logo, o poder
de compra da renda obtida com esse montante também foi afetado na
mesma proporção.
Fonte: InfoMoney
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