A
cinco meses para o início do registro das candidaturas, a corrida
eleitoral deste ano começa a ganhar forma e já concentra pelo menos 11
postulantes ao Palácio do Planalto colocados oficialmente. Nesta
quinta-feira (8/3), os nomes do presidente da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), e do ex-ministro Ciro Gomes (PDT) foram lançados por seus
partidos.
Analistas apontam o cenário
de incerteza na disputa presidencial, reflexo da crise política, e o
fim do financiamento empresarial como determinantes para a
proliferação de candidaturas. A possibilidade de o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT), até agora líder nas pesquisas de
intenção de voto, fica impedido de concorrer com base na Lei da
Ficha Limpa também é considerada um fator para a pulverização de
candidatos
Algumas
dessas candidaturas, porém, são vistas como tentativa de os
partidos se cacifarem nas negociações de alianças eleitorais, como do próprio Maia. No evento em que “estreou” como pré-candidato
à Presidência, o deputado foi reverenciado por líderes de siglas
do Centrão e até por tucanos, que já têm no governador Geraldo
Alckmin (PSDB) seu pré-candidato. Eles ainda tentam atrair o DEM
para a chapa presidencial.
A exemplo da candidatura do
DEM, considerada de centro, no campo da esquerda a postulação da
deputada estadual gaúcha Manuela D’Ávila (PCdoB) também é vista
com ceticismo. Historicamente, o partido tem se colocado como linha
auxiliar do PT e aliados dizem ter dúvidas se ela a manterá até o
fim.
“O
quadro está aberto. Partidos grandes não tem candidato forte,
candidato mais forte está nos partidos fracos. O primeiro colocado nas
pesquisas está impedido. O governo é bom nos
resultados econômicos e pessimamente avaliado. Isso tudo dá muita
insegurança para se apostar em coligações agora”, afirmou o
cientista político Rubens Figueiredo.
A fragmentação vista no
campo de centro, que reúne, além de Maia e Alckmin, o senador
Álvaro Dias (Podemos), pode ficar ainda maior caso o ministro da
Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), concorra. Ele negocia filiação
ao MDB, mas dirigentes da sigla têm dito que a prioridade, em caso
de candidatura própria, é do presidente Michel Temer – que diz
não ter a pretensão de disputar a reeleição.
“Vemos
a pré-candidatura do Maia com o mesmo respeito com que vemos a do
Meirelles. E inclusive alguma do MDB que possa ser lançada”, disse
nesta quinta o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun.
Fator
Lula
Na
esquerda, a indefinição sobre Lula incentiva a fragmentação. Além
do petista e de Ciro, o PSOL lança neste sábado (10), o líder do
Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, como
pré-candidato. Embora considerada mais ao centro, a ex-ministra
Marina Silva (Rede) – oficializada como pré-candidata em dezembro
– disputa o mesmo eleitorado.
No outro extremo, o PSL
filiou na quarta-feira (7), o deputado Jair Bolsonaro (RJ), 2.º
colocado nas sondagens eleitorais. O empresário João Amoêdo foi
lançado pelo Novo em novembro.
Para o cientista político
Vitor Marchetti, da Universidade Federal do ABC, uma das medidas do
que chama de “desestruturação” de sistema político é o número
de candidaturas Para ele, já é possível projetar 18 nomes. “Nosso
recorde foi em 1989, quando 22 candidatos se lançaram. A diferença
é que em 1989 a descoordenação era reflexo da inauguração do
regime, já 2018 é retrato de sua desconstrução.” Vitorioso na
primeira eleição após a redemocratização, o senador Fernando
Collor (AL) é pré-candidato pelo PTC.
A reportagem adotou o
critério de desconsiderar pré-candidaturas não citadas nos
principais institutos de pesquisa, como a da ex-apresentadora Valéria
Monteiro, lançada pelo PMN.
“Com
a crise e a ausência de candidatos com poder de aglutinação, todos
os partidos resolveram se aventurar”, afirmou o cientista político
Carlos Melo, do Insper. A consequência, disse, pode ser um 2.º
turno entre nomes com poucos votos. Para Marchetti, “uma
candidatura que consiga 20% dos votos no 1.º turno terá grande
chance de sair vitoriosa”.
Fonte: Estadão
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