A Polícia Militar de Minas Gerais foi uma das principais forças de ação contra o comunismo em 1964.
A Polícia militar de Minas Gerais foi transformada em força de combate, cumprindo as ordens imposta pelo comando do Exército brasileiro, para combater a infiltração do comunismo no Brasil articulada por João Goulart (Jango) em 1964 que tinha ligações com as outras ditaduras populistas latino-americanas.
Diante da “fraqueza” das tropas do Exército sediadas em Minas Gerais, a Polícia Militar de Minas Gerais foi a solução para este problema. Com um efetivo de aproximadamente 20 mil homens, constituía-se em uma força policial-militar eficiente, formada, instruída, armada e equipada nos moldes do Exército sob as ordens dos generais Olímpio Mourão Filho e Carlos Luiz Guedes, bem como do Coronel PM José Geraldo de Oliveira (Comandante Geral da PMMG). Ações que foram importantes para derrubar a infiltração comunista no Brasil que já ocorria desde de 1950.
O processo de articulação promovido com o Exército, permitiu que em 31 março de 1964 a PMMG desempenhasse importante papel no planejamento da movimentação de militares em Minas Gerais diante o cumprimento das ordens do governador de Minas Gerais Magalhães Pinto e General Olímpio Mourão Filho.
A operação “Popeye” seria cumprida pela Polícia Militar de Minas Gerais, deslocando tropas em direção a Guanabara e Brasília a fim de combater as unidades estacionadas nestes estados e que eram consideradas parte do aparato militar leal a Goulart. A Polícia Militar enviou tropas para a cidade de Três Marias com a missão de assegurar o controle da ponte sobre o rio São Francisco, bloqueando a passagem para Brasília. Foi enviado também outra unidade, o 10º batalhão de infantaria da PMMG de Montes Claros, comandada pelo Major Georgino e pelo subcomandante capitão José Coelho de Lima para conter o avanço de tropas federais.
Esta operação foi a mais difícil desenvolvida pela PMMG em 1964, pois teve o deslocamento dos policiais militares de Montes Claros até Paracatu com o objetivo de fechar o acesso dos militares leais a Goulart.
Ao chegar na cidade, o Major Georgino com sua tropa logo tomou conhecimento da real dimensão da situação em que se encontravam. O major certificou-se de que as tropas enviadas pelo Exército eram muito superiores às suas tanto em números de homens quanto na quantidade e qualidade de armas. Percebendo a inferioridade militar de suas tropas frente ao aparato deslocado pelo BGP do Exército, Major Georgino e o Capitão José Coelho logo perceberam que seria inviável, do ponto de vista militar, lançar suas tropas num engajamento direto e frontal contra as tropas vindas de Brasília.
A solução para este problema seria ocupar a cidade de Paracatu-MG, forçar as tropas do Exército leais a Goulart a atacá-los e travar em suas ruas uma batalha urbana: “rua por rua”, “casa por casa”. Tal estratégia de luta poderia trazer vantagens táticas às tropas da PMMG que, inferiores militarmente iriam se aproveitar de táticas de guerrilha urbana na qual a posse do terreno, a mobilidade e a surpresa poderiam reverter sua desvantagem diante da superioridade militar do BGP do Exército. Essa estratégia, no entanto, colocava em risco a segurança da população da cidade. Isso porque, ao invés de se travar uma batalha campal, frontal e direta, nos arredores da cidade, a luta seria travada em seu interior, em meio à população civil.
Com o objetivo de empreender o máximo de resistência contra as tropas adversárias até a chegada dos reforços vindos de Belo Horizonte prometidos pelo general Guedes, Major Georgino ordenou ao Capitão José Coelho que ocupasse pontos estratégicos da cidade por integrantes da companhia de metralhadoras que deveriam posicionar as metralhadoras pesadas de que dispunham em tais pontos. Enquanto isso, o restante das tropas da PM ocupariam os outros pontos importantes da cidade como prédios públicos e imóveis através dos quais esperavam poder enfrentar as tropas do Exército.
Ciente de que as tropas do BGP já estavam nas proximidades da ponte sobre o rio São Marcos, importante via de acesso a Brasília e muito próxima de Paracatu-MG, o Major Georgino juntamente com o Capitão José Coelho empreenderam procedimentos chamados por eles de “guerra psicológica” mas que não passaram de um imbróglio para evitar a luta que lhes seria desfavorável e ainda para manter o controle sobre Paracatu. O tenente coronel Georgino tentou convencer os militares federias de que caso resolvessem atacar a cidade, verdadeira carnificina aconteceria em seu interior com a morte desnecessária de civis.
Continuando com sua estratégia de “guerra psicológica”, Major Georgino junto com Capitão José Coelho e soldados, ostensivamente armados foram até a prefeitura de Paracatu, onde estes oficiais se reuniram com o prefeito da cidade e outras autoridades civis. Durante a reunião, o comandante do batalhão da PM expôs a situação aos seus interlocutores deixando bem claro seu posicionamento diante da “guerra” que, em sua opinião, já estava em curso.
Major Georgino deixou claro que caso a batalha se desenrolasse no interior da cidade, “Paracatu seria destruída”, uma vez que, “vindo sobre seus defensores os bandidos comunistas, contra estes somente poderiam oferecer o combate de rua, em razão da superioridade bélica do inimigo, que dispunha inclusive de tanques”. O Major Georgino teria sido interpelado pelo prefeito da cidade, da possibilidade da luta ser travada nos arredores e não no interior de Paracatu. Georgino então afirmou que, “naquela situação, as casas seriam usadas como trincheiras e que o sangue dos civis mortos na batalha serviria para clamar o Brasil a se levantar contra os bandidos comunistas”. Por fim, Georgino afirmou que, “ninguém se esqueceria do que aconteceria ali, bem como dos que tombariam como mártires da nação”. E concluiu afirmando que “aqueles que se opusessem a esta ‘glória’ seriam entendidos também como bandidos comunistas”
Com a possibilidade de verem a cidade sendo destruída em meio a uma batalha entre a PMMG e o Exército, tanto o prefeito quanto outros membros proeminentes da administração de Paracatu, fizeram exatamente o que estava nos planos do oficial da PM: “tomaram alguns automóveis e foram ao encontro do comandante do BGP do Exército, distante dali a alguns quilômetros pedir para que não ordenasse o ataque que vitimaria muitos civis e destruiria a cidade, sitiada por forças policiais dispostas a lutar”, não é possível saber os efeitos que tal solicitação teve sobre o comando do BGP do Exército, todavia, o fato é que a batalha não ocorreu.
Coronel José Coelho de Lima |
Porém, o 10º Batalhão de Infantaria da PMMG se dirigiu a Brasília, sendo os primeiros militares a entrarem na capital federal comandadas pelo Major Georgino e Cap. José Coelho. As tropas da PMMG permaneceram por seis meses em Brasília sob o comando do então já Maj. José Coelho que chegou a ter um novo enfrentamento com o exército na cidade de Taguatinga – DF mas graças a inteligência dos Oficiais da PMMG, o confronto não aconteceu.
Com informações do Arquivo Público de Minas Gerais, Brasil Paralelo, Estudo sobre a participação da PMMG no movimento golpista de 1964 em Belo Horizonte de André Gustavo, entrevista do Coronel Georgino Jorge de Souza, em entrevista concedida à Fabio Antunes Vieira Montes Claros, 19 de outubro de 2000 e parentes do Coronel José Coelho de Lima.
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