O presidente Luiz Inácio Lula da Silva compareceu à posse de Dilma Rousseff como presidente do Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS, em Xangai, nesta quinta-feira, 13 – apelidado de banco dos Brics. O petista afirmou que o “Brasil voltou depois de uma ausência inexplicável” e discursou contra o uso do dólar como moeda predominante na economia global.
“Por que não podemos fazer comércio lastreado na nossa moeda? Por que não podemos ter o compromisso de inovar? Quem é que decidiu que era o dólar a moeda depois que o ouro desapareceu como paridade? Por que não foi o yen? Por que não foi o real, o peso?”, ele perguntou à plateia. “Porque as nossas moedas eram fracas, não tinham valor em outros países”, concluiu.
O posicionamento está em consonância com a reforma da ordem mundial, regida pela hegemonia americana e da Europa, que está na origem da criação do Brics — grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul —, algo que Pequim defende com cada vez mais afinco.
“A união de países emergentes é capaz de gerar mudanças econômicas e sociais relevantes para o mundo”, defendeu Lula. “O NBD [Novo Banco de Desenvolvimento] liberta países emergentes da submissão às instituições financeiras internacionais.”
Em seguida, Lula visitou um centro de pesquisa da gigante de tecnologia Huawei. Considerada pelos americanos um risco à segurança e um braço do governo chinês, a empresa privada se vê no centro das disputas sino-americanas.
Na época das definições para o leilão do 5G no Brasil, realizado em novembro de 2021, os Estados Unidos chegaram a pressionar o Brasil a barrar a entrada de empresas da China na infraestrutura da nova geração de internet no país, acusando-as de fazer espionagem. Mas, no ano passado, a Softex apresentou duas propostas para o desenvolvimento de 5G e inteligência artificial no Brasil, com o apoio do governo brasileiro e da Huawei.
Além de representantes da Huawei, Lula também falou com o presidente do Conselho da maior empresa de construção civil do país, a China Communications Construction Company (CCCC), Wang Tongzhou. No Brasil, a CCCC investe em obras de infraestrutura, como a construção da ponte Salvador-Itaparica.
Segundo o Itamaraty, Tongzhou expressou seu desejo de aumentar a cooperação entre empresas brasileiras e chinesas – e também propôs a criação de mecanismos de troca direta entre o yuan (moeda chinesa) e o real, tirando o dólar da jogada.
O presidente brasileiro reuniu-se ainda com com o CEO da empresa de veículos elétricos BYD, Wang Chuanfu. A empresa produz ônibus elétricos e está negociando uma fábrica de automóveis elétricos na Bahia, em Camaçari.
Por enquanto, Lula não falou com a imprensa. Assim, se viu livre de temas espinhosos, com potencial para gerar ruídos com o país anfitrião, como democracia e direitos humanos. Seus discursos mostraram-se alinhados às posições de Pequim, o que deve gerar ruídos do outro lado do Pacífico — o argumento brasileiro de manter a “equidistância estratégica” entre parceiros em meio às disputas entre Estados Unidos e China deve parecer mais fraco agora para os americanos.
Fonte: Veja
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