Carta cita respeito à soberania dos venezuelanos; signatários se dirigem ao presidente e ao assessor Celso Amorim, deixando Mauro Vieira de fora.
Associações e grupos com orientação de esquerda enviaram uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pedindo que ele reconheça a vitória de Nicolás Maduro (Partido Socialista Unido da Venezuela, esquerda) nas eleições da Venezuela. A carta é endereçada apenas ao presidente da República e ao seu assessor especial Celso Amorim, que é na prática quem define a política diplomática externa do Brasil. Os signatários ignoram o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.
A carta pede que Lula reconheça a legitimidade e a vitória de Maduro, destacando os “laços de cooperação e amizade que historicamente unem” Brasil e Venezuela.
“Gostaríamos de ressaltar a importância da manutenção de boas relações de vizinhança entre o nosso país e a República Bolivariana da Venezuela, baseadas no respeito mútuo, na cooperação e na compreensão das complexidades internas de cada nação. Os princípios da soberania e da autodeterminação dos povos, consagrados na Constituição Federal de 1988 e na Carta das Nações Unidas, guiam a nossa política externa independente, uma conquista importante da nossa nação, sob vossa liderança”, discorre o texto.
A carta ainda cita a política externa brasileira sob o comando de Lula e os esforços que o presidente fez para construir acordos benéficos para países vizinhos, como a renovação do acordo estrutural binacional para tarifas da hidrelétrica de Itaipu com o Paraguai.
Em contraponto, o texto diz que a oposição venezuelana “ameaça a estabilidade da América Latina” e afirma que isso pode ser evitado através do diálogo com o país.
“A extrema-direita venezuelana e seus aliados fora do país promovem uma agenda polarizadora e desestabilizadora, ameaçando não só a paz interna do país, mas também a estabilidade de toda a América Latina. Esta situação pode ter reflexos negativos em nosso próprio país, gerando tensões que poderiam ser evitadas por meio de uma ação do Brasil pautada no diálogo e no respeito às escolhas legítimas do povo venezuelano”, diz o documento.
Nicolás Maduro se autoproclamou vencedor nas eleições realizadas em 28 de julho, apesar de a oposição afirmar que Edmundo González (Plataforma Unitária Democrática, centro-direita) teria vencido com 67% dos votos. Questionado pelo senador Jorge Kajuru (PSB-GO) se “não está na hora de ignorar o [presidente da Venezuela] Maduro” durante a entrevista ao PODK Liberados, da RedeTV!, em 10 de novembro, Lula disse que Maduro “é um problema da Venezuela, não do Brasil”.
As tensões entre os países aumentaram depois de a entrada da Venezuela no Brics ser vetada pelo Brasil. Caracas considerou o veto uma “agressão” e o Ministério das Relações Exteriores disse que o governo Lula manteve “o pior” de Jair Bolsonaro (PL).
“O Itamaraty, liderado pelo embaixador Eduardo Paes Saboia, decidiu manter o veto que Bolsonaro impôs à Venezuela durante anos, reproduzindo o ódio, a exclusão e a intolerância promovida pelos centros de poder ocidentais para impedir, por ora, a entrada da Pátria de Bolívar a essa organização. E uma ação que configura uma agressão à Venezuela e um gesto hostil”, diz a nota.
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