Banner Acima Menu INTERNAS

.

Da Liberdade à Servidão: quando os Rebeldes viram Capachos da Ditadura

Por: Luiz Fernando Ramos Aguiar
Durante os chamados “anos de chumbo”, a esquerda brasileira se transformou no baluarte da luta pela democracia e liberdade. Seus personagens tornaram-se ícones, mártires da democracia; criaram um movimento de contracultura que sobrevive até hoje pelo culto dos mais caquéticos compositores da MPB, escritores que não escrevem e comentaristas políticos convertidos em assessores de imprensa do atual governo. Sob slogans e gritos de guerra como “É proibido proibir!”, venderam-nos a imagem de amantes da liberdade e inimigos da tirania. Mas os atuais movimentos de rua e o crescimento vertiginoso da direita revelaram uma realidade indigesta: nossos ícones da liberdade tornaram-se aquilo que mais odiavam — ou, pelo menos, diziam odiar.
Os veteranos da imprensa e da cultura nacional se orgulham de sua ferrenha luta contra a chamada ditadura militar. Exibem, orgulhosos, suas fotos retiradas de inquéritos ilegais e lamentam seus anos no exílio, em fuga das ações autoritárias das forças opressoras do governo militar. Do alto do pedestal de uma autoridade moral construída por seus currículos de luta política, eles vociferam nos estúdios moribundos de suas “grandes emissoras” e ditam suas regras morais em seus mega portais de jornalismo. Nós, os meros mortais — os ignorantes que não conseguem compreender a profundidade da sabedoria das leitoas e mortadelas —, devemos nos curvar às suas sagradas opiniões, sob pena de sermos degredados do discurso público, banidos das redes sociais e proibidos de falar.
Comprometidos até o tutano de suas almas e submetidos até o fundo de seus bolsos. Os rebeldes das décadas de 60 e 70 do século passado se tornaram aquilo que mais criticavam: vassalos do autoritarismo, da censura e da perseguição a inocentes. Claro, tudo em nome da democracia.
Se antes deixavam o país para fugir dos abusos de Estado, os atuais exilados não passam de criminosos, golpistas e agentes de desinformação — mesmo que, em muitos casos, não existam evidências ou que os processos sejam conduzidos sem o respeito aos preceitos mais fundamentais do direito. Aliás, exatamente como acontecia durante o regime militar, contra o qual esses mesmos intelectuais, jornalistas e artistas afirmam ter lutado — mesmo sob risco de vida.
O caso mais evidente dessa virada moral está na luta desses intelectuais orgânicos contra a anistia dos presos em razão dos atos de 8 de janeiro. Mesmo que o Estado brasileiro tenha levado ao cárcere centenas de pessoas — sem direito à defesa, sem individualização da conduta criminal, sem direito a um juiz natural, sem acesso às acusações ou aos autos dos processos, e com penas exorbitantes, desproporcionais e cruéis —, nada disso atinge os sensíveis corações de nossos veteranos da luta contra a ditadura.
Para eles, cabeleireiras, vendedores de pipoca e moradores de rua devem ser condenados sem piedade, em tribunais de exceção, sem direito à ampla defesa e ao contraditório. Afinal, trata-se de perigosos terroristas, inimigos da democracia, golpistas sanguinários — armados com bíblias, batons e carrinhos de algodão-doce.
Eles não se importam com a contradição de seus posicionamentos. Aqueles que lutaram bravamente pela anistia ampla, geral e irrestrita — mesmo para pessoas que praticaram crimes terríveis, como assassinatos, justiçamentos, sequestros e assaltos a banco — agora se revoltam com a possibilidade de que pessoas envolvidas em uma manifestação, que descambou para um lamentável episódio de depredação de prédios públicos, não sejam condenadas em processos sumários, nos quais nem mesmo seus advogados têm o direito de realizar uma defesa oral de forma adequada.
Justiça, liberdade e democracia tornaram-se palavras vazias nos editoriais e artigos de nossos “defensores da democracia”. Suas opiniões já não refletem mais valores ou ideais — tudo o que um dia representaram perdeu o sentido. Tornaram-se velhos ranzinzas, mal-humorados e sem criatividade.
Sem conexão com as pessoas que consomem seus conteúdos, são apenas marionetes de um sistema opressor e autoritário. Comprometidos com uma ideologia decadente e com um movimento político fundamentado na corrupção e no engano, tornaram-se aquilo que mais temiam: capachos da ditadura.
E, como dizia Rui Barbosa:
“A pior ditadura é a ditadura do Poder Judiciário. Contra ela, não há a quem recorrer.”

Postar um comentário

0 Comentários