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Entre discursos e destruição: a contradição ambiental do Brasil em ano de COP30

O ano de 2025 começou com um paradoxo difícil de ignorar no Brasil. Enquanto o país se prepara para receber a COP30 em Belém (PA) — evento global sobre mudanças climáticas onde pretende se apresentar como referência ambiental — a região da Amazônia Legal testemunhou um salto impressionante na degradação de suas florestas. Só no primeiro trimestre, a área degradada atingiu 33,8 mil km², um aumento de quase 500% em comparação com o mesmo período de 2024, que teve 5,8 mil km². Os dados são do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), por meio do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), e representam o maior valor já registrado desde o início do monitoramento.
Para se ter ideia do impacto, essa extensão equivale à área urbana de uma capital como Porto Velho (RO). A diferença é que, nesse novo vazio aberto em meio à floresta, não há moradores, nem infraestrutura — apenas a marca da devastação impulsionada por queimadas e extração ilegal de madeira. Esse tipo de degradação, que muitas vezes antecede o desmatamento total, abre caminho para a destruição definitiva da vegetação nativa, enfraquecendo qualquer narrativa de compromisso ambiental por parte do governo.
O mês de fevereiro foi particularmente grave: foram identificados 211 km² de floresta degradada, número 14 vezes maior do que o registrado no mesmo mês do ano anterior. O Pará liderou os índices, concentrando 75% da degradação, seguido pelo Maranhão, com 14%. Dos dez municípios mais atingidos, sete estão localizados justamente no estado que será sede da COP30, onde o Brasil tentará afirmar sua liderança na agenda climática global.
Carlos Souza Júnior, coordenador do programa de monitoramento da Amazônia do Imazon, não deixou dúvidas sobre a gravidade do momento: “Não seria bom para o Brasil, em um ano tão decisivo como o da COP30, fechar este calendário com números em alta.” A declaração soa mais como um alerta urgente do que uma simples observação.
Com a proximidade do evento internacional e a atenção do mundo voltada à região amazônica, o contraste entre o discurso oficial e a realidade no chão da floresta se torna ainda mais visível. Se o país quiser de fato demonstrar comprometimento com a preservação ambiental, precisará ir além dos pronunciamentos e painéis ilustrativos. A resposta exigirá medidas firmes contra crimes ambientais, responsabilização dos envolvidos e, talvez o maior desafio de todos: romper com alianças políticas que se beneficiam da destruição dos ecossistemas.
Por enquanto, a floresta segue em chamas — enquanto os ensaios para a vitrine internacional continuam em Brasília.


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